Skip to main content

AMAR

AMAR

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia, o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave
de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drumond de Andrade


Apoie Nosso Trabalho! Se você gosta do nosso conteúdo e quer nos ajudar, voce pode fazer uma doação via Pix. 🔹 Chave Pix: otimismoemrede@gmail.com Seu apoio nos motiva a seguir compartilhando informações, dicas e inspirações. Muito obrigado! 💛

Related Posts

Ser Jovem
Ser Jovem - Jacqueline Collodo Gomes Dizem: Quanta frescura!quando um jovem...
Read more
Todo obstáculo contém uma oportunidade
Todo obstáculo contém uma oportunidadeEm tempos bem antigos, um rei...
Read more
a crise
A Crise Reflexão sobre a Crise... "Era uma vez um homem...
Read more

Write a reply or comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *