extinção de professores
No ano de 2.020, uma conversa entre avô e neto tem início a partir da
seguinte interpelação:
– Vovô, por que o mundo está acabando?
– Porque não existem mais PROFESSORES, meu anjo.
– Professores? Mas o que é isso? O que fazia um professor?
– Professores eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se
expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás,
transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar,
escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na história, entre
muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.
– Eles ensinavam tudo isso? Mas eles eram sábios?
– Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os
grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados
pelos alunos.
– E como foi que eles desapareceram, vovô?
– Ah,foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado
aos poucos por alguns vilões da sociedade. O vovô não se lembra
direito do que veio primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram
muito. Eles acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos,
apenas para mostrar estatísticas de aprovação. Assim, sabendo ou não
sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados. Isso liquidou o
estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados conseguiam
aprender alguma coisa. Depois, muitas famílias estimularam a falta de
respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados
de seus filhos.Estes foram ensinados a dizer “eu estou pagando e você
tem que me ensinar”, ou “para que estudar se meu pai não estudou e
ganha muito mais do que você” ou ainda “meu pai me dá mais de mesada
do que você ganha”. Isso quando não iam os próprios pais gritar com os
professores nas escolas. Para isso muito ajudou a multiplicação de
escolas particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades que
na qualidade do ensino, quando recebiam reclamações dos pais,
pressionavam os professores, dizendo que eles não estavam conseguindo
“gerenciar a relação com o aluno”. Os professores eram vítimas da
violência – física, verbal e moral – que lhes era destinada por pobres
e ricos. Viraram saco de pancadas de todo mundo.
Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre
esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação do filho no vestibular,
para qualquer faculdade que fosse. “Ah, eu quero saber se isso que
vocês estão ensinando vai fazer meu filho passar no vestibular”,
diziam os pais nas reuniões com as escolas. E assim, praticamente todo
o ensino foi orientado para os alunos passarem no vestibular.
E lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as discussões de idéias,
tudo, enfim, virou decoração de fórmulas.
– Mas vovô, e a Internet?
Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram
acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou ir à escola para
estudar a sério. Em seguida, os professores foram desmoralizados. Seus
salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria
se dedicar à profissão. Quando alguém criticava a qualidade do ensino,
sempre vinha algum tonto dizer que a culpa era do professor. As
pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as
pessoas “bem sucedidas” eram políticos e empresários que os
financiavam, modelos, jogadores de futebol, pagodeiros, agiotas,
traficantes, artistas de novelas da televisão, enfim, pessoas sem
nenhuma formação ou contribuição real para a sociedade.