FRASES QUE MARCAM A VIDA

CRÔNICA Publicada à pág. 2 do caderno CULTURA do Jornal ESTADO DE MINAS de: 08/03/2013

 

Desde ginasiano, tenho o hábito de registrar, em um caderno de anotações, as frases mais expressivas dos livros lidos. Ou melhor: um aconselhável processo mnemônico.

Por outro lado, constato que as transcrições são válidas como retrato da vida: passei da fase das aventuras de Tarzan para os livros policiais da coleção Amarela, depois, veio a fase romântica dos primeiros sonhos, até que a política universitária me envolveu, acreditando que a minha geração salvaria o mundo ou, pelo menos, o Brasil. Vieram então Rui e Nabuco, Euclides da Cunha e Machado, Bilac e depois Drummond; D. Quixote, Shakespeare, Rousseau, só mais tarde Camões, Guerra Junqueira e Fernando Pessoa, uma colcha de retalhos para acolher a minha ignorância.

Folheio, ao acaso, as anotações que se sucedem: “O homem nasceu livre e, não obstante, está acorrentado” (Rousseau);“Mudar é progredir” (Rui Barbosa); … “o ódio, que é muitas vezes a forma heroica da bondade” (Euclides da Cunha); jáBernard Show dá versão oposta: “O ódio é a vingança dos covardes”

Encontro a ironia de Machado de Assis: …”antes cair das nuvens do que do terceiro andar”Ou então: “Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis”

Já Fernando Pessoa filosofou :”Tudo vale a pena/ se a alma não for pequena”.

Em um dos seus poemas, Jacques Prevet escreveu: “O burro, o rei e eu/ Estaremos mortos amanhã/ o burro de fome/ o rei de tédio/ E eu de amor”. A poetisa Cecília Meireles foi sucinta na definição: “Não sou alegre, nem sou triste/ sou poeta”

Da poesia para a música: “Mozart não existe, porque quando é bom, é Beethoven, e quando é ruim, é Haydn” (Gabriel Garcia Márquez).

E não é que o papa Leão XIII ensina na Renum novarum que“uma lei não merece obediência, senão quando é conforme com a reta razão e a lei eterna de Deus”

E tem mais: para quem acredita que Getúlio Vargas foi um democrata progressista, o velho e respeitável Graciliano Ramos denuncia em Memórias do cárcere: “Não tínhamos nenhum direito, nem ao menos o direito de viver”.

E, finalmente, John Steinbeck enfeita a vida em Boêmios errantes: “Ele disse as palavras mais belas que conhecia: Ave Maria, gratia plena”.

 

José Bento Teixeira de Salles

 

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