O Gene do Otimismo
Ele foi rastreado por cientistas brasileiros e ingleses, em estudos diferentes. O resultado é o mais recente avanço do ramo da genética que busca explicações para os traços da personalidade na interação entre o ambiente e o genoma

Além de pavimentar o caminho para uma revolução na medicina, o sequenciamento do genoma humano permitiu que cientistas identificassem uma série de genes relacionados ao comportamento. Não se passa um mês sem que um novo estudo associe determinado gene à tendência a adquirir certo traço de personalidade, ou a desenvolver um hábito ou vício – desde que o gene seja “ligado” pelo ambiente em que a pessoa vive. A mais recente dessas pesquisas, conduzida pela Universidade de Essex, na Inglaterra, debruça-se sobre o gene responsável pelo transporte da serotonina, neurotransmissor associado a sensações como o bem-estar e a felicidade. Uma variação nesse gene estaria relacionada à maneira como cada um processa as informações positivas ou negativas – ou seja, à tendência a ser otimista ou pessimista. O gene do otimismo, como foi batizado pela comunidade científica, já havia sido rastreado pela equipe da geneticista Mayana Zatz, da Universidade de São Paulo, em parceria com o geneticista João Ricardo de Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco, durante uma pesquisa para tentar descobrir a influência genética de doenças psíquicas. Com novas questões levantadas pela equipe inglesa, o estudo da USP e da UFPE será agora publicado pela revista Molecular Psychiatry.

A descoberta da estrutura do DNA pelo americano James Watson e pelo inglês Francis Crick, em 1953, e o mapeamento completo do genoma humano, em 2003, abriram um campo de exploração sem precedentes para entender as origens biológicas da personalidade. Hoje se sabe que os comportamentos dependem da interação entre fatores genéticos e ambientais. Além disso, as descobertas mais recentes nesse campo mostram que a influência dos hábitos e do estilo de vida de cada um na ação dos genes é maior do que se pensava. Pessoas com genes associados à depressão têm mais probabilidade de desenvolver a doença se forem expostas a eventos traumáticos durante a vida. Do mesmo modo, indivíduos com dificuldade para fazer o metabolismo do álcool não vão se tornar automaticamente abstêmios. Com a descoberta do gene do otimismo, a geneticista Mayana Zatz faz a seguinte reflexão: é possível que, de agora em diante, tenhamos de ser mais tolerantes com quem teima em ver apenas o lado negativo do mundo. Afinal, essa atitude – em parte – está nos genes.

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