O racismo que ninguém ver
Só nesta semana testemunhei duas falas impróprias quanto ao biotipo dos japoneses: a primeira foi num restaurante, onde, na hora do almoço, assisti à cobrança de pênaltis de japoneses e paraguaios; a outra foi hoje, quando do jogo do Brasil, num comentário do narrador. Em ambas as situações, pedia-se que um japonês abrisse o olho (no último caso, era o juiz; no outro, era o batedor).
Nesses episódios, ninguém se lembra de que a brincadeira é politicamente incorreta. Por que será? É simplesmente porque racismo autêntico é racismo contra negros?
Antes do jogo da seleção, ouviu-se um texto contra a discriminação racial no futebol, lido pelos capitães de Holanda e Brasil. Mas, infelizmente, discriminar japonês não dá em nada.
Ora, se alguém fizesse qualquer piada do tipo “o jogador fulano está queimado”, dependendo da circunstância, isso poderia gerar até processo-crime se o jogador fosse negro. É o mesmo que se dá quando se falam coisas como “a situação tá preta” e outras frases de que os ativistas negros não gostam.
Em minha casa, meus sogros e esposa são geneticamente nipônicos, embora brasileiros. Há um constrangimento diante de piadas desse naipe, e até eu, um brasileiro “macunaímico” de pele clara, fico constrangido diante da TV. Será que os nipo-brasileiros não podem se chatear? Será que eles mesmos não se sentem discriminados quando chamados de “japa”? Será que não acham ruim ser considerados como estrangeiros em sua própria terra?
Não é difícil alguém aqui em Salvador perguntar à minha sogra de onde ela é e, ao saber que é do Brasil, emendar com a sábia indagação: “E porque nasceu assim?”. Tudo bem, aí está a ignorância, a falta de educação básica, mas até os supostos bem-informados fazem piadas discriminatórias sem pensar na besteira que fizeram.
Alex esteves

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