pais autoritários e superprotetores

Superproteger não é o ideal

Pais como Eva, da novela “A Vida da Gente”, criam filhos infelizes e podem trazer sérios problemas a eles

Em “A Vida da Gente”, novela da Globo, a autoritária Eva (Ana Beatriz Nogueira) tem tudo para estar entre as vilãs mais odiadas da TV. O primeiro motivo é por ter forçado a filha, Ana (Fernanda Vasconcellos), a abrir mão de assumir a maternidade em nome da carreira no tênis. O segundo, maltratar a outra filha, Manuela (Marjorie Estiano). A principal característica de Eva é tentar controlar cada passo da vida das garotas, principalmente a de Ana. A mãe quer que a esportista tenha sucesso, como forma de sublimar a infância de privações que teve. Sem, obviamente, as tintas carregadas da ficção, não são raros os pais e mães controladores, cujo comportamento é justificado como amor e zelo. Mas os fins nem sempre justificam os meios. Certas atitudes são prejudiciais à vida adulta e camuflam problemas emocionais dos pais.

De acordo com o psiquiatra Wimer Bottura, da Associação Paulista de Medicina (APM), a maioria dos pais controladores tem dificuldade de estabelecer vínculos afetivos –confundem afeto com autoridade, talvez por terem sido tratados assim durante a infância. Outra característica é se importar demais com a opinião alheia. “Querem que os filhos sempre pareçam inteligentes, espertos, bem-sucedidos. Para eles, parecer é mais importante do que ser”, explica. Para Wimer, quem controla demais também deseja evitar que o filho experimente qualquer tipo de frustração. “São adultos que não superaram o passado e querem impedir, a todo custo, que o filho sofra o que sofreram”. É o que acontecer com a mal resolvida Eva, em “A Vida da Gente”.

Superproteção – Superproteger não é bom. Aqueles pais que, desde que o filho é pequeno, acabam fazendo as coisas por ele, em vez de deixá-lo aprender, não estão fazendo o bem, por mais que a intenção seja boa. “Um bom exemplo é o da mãe que não permite que o bebê se suje ao tentar colocar a colher na boca e acaba tomando para si a função de alimentá-lo”, diz a psicóloga Cecília Zylberstajn. “Alguns pais não percebem, mas direcionam um olhar egoísta à criança, que acreditam ser uma extensão deles. Não entendem que tirar a oportunidade de errar é quase uma violência”, completa.

Artimanhas – A chantagem emocional é o artifício mais comum entre pais controladores, como Eva. Esses pais vivem repetindo aos filhos que tudo o que fazem é pelo bem deles. Que não querem que passem as mesmas dificuldades que enfrentaram no passado. Sob esse argumento, a personagem da novela comanda a vida da filha, impedindo que ela consiga seguir seus desejos. Para convencer os filhos, Eva (e muitos pais) jogam na cara as noites em claro por causa de doenças, as escolas caras, os momentos de diversão que tiveram de abrir mão para criá-los. Há, ainda, outros perfis: os que se valem da fragilidade do filho para incutir a ideia de que sabem o que é melhor para ele e os de baixa autoestima, que creem que o filho é bem melhor do que eles e, por isso, deve ter o futuro brilhante que não tiveram.

Consequências – Filhos de pais controladores podem até se sentir amados, mas, em geral, se tornam adultos com vários problemas: baixa autoestima, autocrítica exagerada, insegurança, dificuldade em se relacionar e de tomar decisões. Para o psiquiatra Wimer Bottura, há, ainda, o perigo de acontecer o efeito contrário: “Quando finalmente o jovem se vê livre do controle dos pais, não sabe direito o que fazer com a liberdade e acaba se metendo em problemas”, diz. “São comuns, também, os que repetem o modelo dos pais.”

Mudança – Alguns pais, infelizmente, tentam controlar a vida dos filhos até mesmo na idade adulta. Outros, diante dos questionamentos e da rebeldia típica da adolescência, decidem reavaliar as próprias atitudes e melhorar o relacionamento com os filhos, antes que ele seja prejudicado. “Não é uma tarefa fácil”, avisa a psicóloga Cecília Zylberstajn. “A pessoa precisa fazer uma autoanálise profunda, encarar e aceitar as próprias limitações e frustrações”. A partir dessa aceitação, é possível tirar as cobranças dos ombros dos filhos e deixá-los viver sem o peso de consertar a vida ou atender às vontades dos pais.

fonte: http://www.orm.com.br/amazoniajornal/interna/default.asp?modulo=827&codigo=559615

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